Escritora Artemise Galleno São Luiz-MA
Artemise Galleno

Contista, romancista, cronista, cursando atualmente marketing digital-UNIFCV. Julgadora do portal da escrita-game literário, também é compositora e roteirista. Destacou-se em 2012 com o poema de um pecador- em 8° lugar nacional. Lançou um livro solo na feira do livro em 2012, possui diversos contos e romances. E-books; em (plataformas digitais).
Participa ativamente de diversos projetos culturais.
Encaminhado dia 02 de fevereiro de 2021
Conto - A NOIVA
Manhã de sábado na Ilha do Amor. Mal dera sete horas da manhã, Marta atravessara a praça da Bíblia procurando um endereço. Tudo que a jovem queria naquele momento, era estar em casa dormindo. Marta chegou em casa sentindo-se mal, teve medo de desmaiar. De repente, o seu celular toca. Ela se espanta e atende apreensiva.
─ Sim Romeu. Está bem, estou saindo.
Marta estava triste. Teria o seu futuro promissor, pois casar com Romeu estaria certamente segura para toda vida. Seu matrimônio seria o mais perfeito, não havia dúvidas. Mas algo lhe abatia, só não sabia explicar.
Finalmente ela chegou a Casa das Noivas. Marta desceu do carro e entrou no prédio muito bem arejado, próximo à Beira-Mar. Moças se ataviavam de vestidos impecáveis e ensaiavam com entusiasmo. Damas de honra tinham privilégio de atuarem com destreza, para servirem as noivas. De repente, a moça foi interrompida por um rapaz que esbarrou nela. Ele se desculpou, e logo se afastou. Em seguida, a costureira do Ateliê se aproximou.
─ Venha garota, o seu vestido está pronto!
Sim.
De repente, a garota se viu em frente a um grande espelho, após ter se vestido de branco. E uma voz masculina ecoou com um elogio inusitado:
─ A noiva mais linda que já vi!
Marta sorriu sem graça. Disfarçadamente ela olhou pelo espelho. O rapaz usava uma roupa social e seus olhos falavam muito mais do que suas palavras.
─ Poderia sair dessa boca, um sorriso de felicidade. No entanto, vejo angústia em seu olhar.
Marta não soube o que falar, era um desconhecido lendo literalmente seu interior. Nisso, a costureira interviu com brandura:
─ Vamos Ricardo, deixe a senhorita.
A jovem baixou a cabeça, mas aquele rapaz parecia saber demais. Quem seria ele? Marta apressou-se em tirar a roupa. Pagou a quantia que faltava e recebeu seu vestido. Ela tinha sido questionada pela primeira vez sobre seus anseios, porém mantinha suspeitas se realmente ainda amava Romeu.
Ao chegar em casa, a sirene tocou. Era Alice, a amiga de Marta. As jovens estavam concluindo a Faculdade de Direito, além de trabalharem no mesmo escritório.
─ Agora que você apareceu?
─ O que foi? Esqueceu de experimentar seu vestido?
─ Não, nada disso, eu lembrei sim. Quero te contar uma coisa Alice. Alguém que conheci. Ele parecia um príncipe, mas era um cara inconveniente.
─ Como assim?
─ Ele falou que eu era uma noiva infeliz.
─ Ele acertou em cheio. Cadê esse cara que eu preciso conhecer?
─ Não é brincadeira Alice. Você não tem jeito, nunca leva as coisas à sério.
─ Mas, é verdade. Gostei desse cara.
─ Não quero vê-lo nunca mais.
─ Não quer ou não pode?
─ O que você disse? Para com isso menina. Estou as portas do meu casamento!!
─ Eu sei, mas parece você é a única pessoa que não sabe.
Marta ficou pensando seriamente e questionou:
─ Que dia é hoje Alice?
─ Hoje é sexta-feira.
─ Me dar aí meu celular, por favor amiga.
─ Pega. Ver se liga para o teu noivo. Acho que ele deve estar chegando para ver a noiva de mentirinha.
─ Como pode falar assim de mim?
─ Estou brincando amiga. Mas se ele não te fizer feliz, vou acabar com a raça dele.... E por falar em casório, estou louca para ver teu vestido de noiva.
Marta estava aflita, tentou ligar para resolver as coisas para o noivo, mas foi em vão. Ela ficou preocupada porque o noivo exigia com autoritarismo tudo que ele lhe pedia. As amigas ficaram horas vendo a lista de convidados. A tarde havia passado rápido para Marta que cochilara depois que Alice saiu. O celular tocara várias vezes, mas a noiva não escutara. Porém às cinco horas da tarde, o rapaz chegou irado.
─ O que aconteceu Marta? Você não me ligou para falar sobre a governanta.
─ Romeu, deixa eu te explicar...
─ Explicar o que? Que você não consegue resolver nada para mim?
O rapaz saiu batendo a porta do quarto. Marta desabafou enfurecida depois que o rapaz saiu.
─ O que estou fazendo da minha vida? Já errei tantas vezes e ainda continuo a errar?
A garota desaba em choro. E se depara em frente a um espelho. Percebe o quanto é jovem e bela. Tem apenas vinte anos. Lembrou-se do tempo em que teve um namorado e engravidou, mas perdera o filho depois de ser espancada pelo pai da criança. A decepção chegou cedo em sua vida quando tinha apenas dezesseis anos de idade. Depois disso, nunca mais amara ninguém. Sua beleza física atraía o sexo oposto, mas ela precisava ser muito mais do que o reflexo de um espelho, precisava ser valorizada. A sua relação com Romeu tinha sido somente uma atração. Agora estava se questionando por que teria que se casar com alguém que não conseguiu amar. E a cena se repete, quase como contos de fada clássico, Branca de Neve:
" ─ Espelho meu, existe uma noiva mais infeliz do que eu? "
O dia do casamento havia chegado. Alice acabara de chegar com flores e colocou no jarro da sala. Marta continuava deitada de olhos fechados. Ela estava sem ânimo. Alice percebeu o desalento da amiga e chegando perto da cama, perguntou:
─ O que você tem menina?
─ Eu não tenho condições de me levantar.
─ Por favor noivinha, você tem que se esforçar. O cara é cheio da grana!
─ Para com isso Alice.
De repente ela perde os sentidos. Tivera uma caída de pressão.
─ Oh não!!outra vez? ─ murmurou a amiga.
Alice correu e abriu o guarda-roupas, logo encontrou o vestido branco de noiva, estendido na cruzeta, ela vestiu na amiga ligeiramente. Nisso, a sirene tocou insistente. A moça correu e desceu as escadas, pedindo ajuda ao estranho que chegara.
─ Por favor, me ajuda a levar minha amiga para o hospital?
O rapaz se assustou, e se propôs a ajudá-la.
─ O que ela tem? Estar desmaiada?
─ Sim. Acho que deu um surto nela e não quer casar. Já pensou? Um cara rico e ela ainda pensando em amor?
─Vamos, vamos no meu carro.
─ É a primeira vez que isso acontece?
─ Não...já aconteceu. Todas às vezes que o noivo a trata mal.
Marta estava sem sentidos. Alice e o rapaz a colocam-na deitada no banco detrás. Alice estava nervosa.
─ Por favor, vá depressa.
O rapaz acelera e sai em disparada. Um pouco menos de cinco minutos ela acorda atordoada.
─ Aonde estamos?
Alice suspira aliviada.
─ Graças a Deus, você está viva menina!
Marta levanta o rosto mais uma vez e atônita pergunta, quando ver o rapaz:
─ Você? O que faz aqui?
─ Você é a noiva que conheci ontem, lembra?
─ Alice intervém:
─ Vocês já se conhecem?
─ Eu a conheci esta semana e, se não me engano...usava esse vestido de noiva.
─ Então foi você? Que gentil! - Ironizou Alice.
─ Não me levem para o hospital. Ei... por que estou com meu vestido de noiva? Ficou maluca Alice?
Calma amiga, foi o primeiro que encontrei. Não iria servir mesmo para nada, se você morresse...
─ Verdade. Quero voltar para o meu apartamento.
─ Mas já estar na hora de casar menina!! ─ interviu a amiga preocupada.
Marta passara as mãos nos cabelos desalinhados e no seu rosto dizendo:
─ Como devo estar horrível!
─ Não, você está linda vestida de noiva! _. Respondeu o jovem num ímpeto.
O rapaz parou o carro e Alice desceu. Ainda olhou para trás e disse:
─ O que você decidir Marta, eu assino embaixo.
Marta ficou sem saber o que dizer. Temeu olhou para o rapaz.
─ Leve-me em casa, por favor.
─ Que horas será ´seu casamento dona noivinha?
Pare com isso! Você nem me conhece e já me critica?
─ Calma senhorita. Mas acho uma grande tolice uma relação sem amor.
─ Para onde estar me levando?
─ Vamos nos divertir. Estar ainda tonta?
─ Não, estou bem. Mas não quero ir com você à lugar nenhum.
Sem hesitar, o jovem a carregou nos braços e adentrou num restaurante chique da ilha.
─ Largue-me. Você está maluco?
─ Você quer dançar? Eu te conduzo.
O rapaz abraçou-a na cintura e Marta teve que acompanhá-lo. Seu perfume embebia a jovem. Fazia muito tempo que ela não sabia o que era dançar. Sem ter muito o que falar ela perguntou baixinho:
─ Posso saber seu nome?
─ Meu nome é Ricardo. Sou Estilista. Capaz de fazer uma noiva infeliz voltar a ser feliz. Sabia que procurei seu endereço na ficha das noivas?
Marta não entende e fala atordoada:
─ Chega por hoje. Seria a hora do meu casamento. ─ A moça sai da dança e volta para mesa onde estavam.
─ Casamento? Nada disso. Você não o ama.
─ Ricardo, as pessoas estão sorrindo de mim.... Acham que estou louca com essa roupa.
─ Ei pessoal, olhem para cá. Vocês conhecem minha noiva? A gente vai casar hoje.
Marta ficara envergonhada com a atitude do jovem. Mas quando se deu conta já estava sorrindo.
─ Olha que sorriso lindo! Pela primeira vez te vejo sorrir de dentro para fora!
Depois de conversarem, a moça se embebedara com um copo de vinho. Mas Ricardo tomara de conta dela. Ele a levara para casa. Ricardo não se conteve enquanto não a beijou. Marta não imaginava que podia despertar tanto amor em alguém. Eles estavam ali, envolvidos de prazer. O vestido de noiva jogado no chão, já não tinha mais sentido para ela. Agora seria hora de dar uma explicação ao noivo desprezado na igreja. Ricardo a deixou em seu quarto e a cobriu de beijos, se despediu porque a moça insistiu que ele fosse embora. Marta procurou seu celular, nervosa. Imaginava as ligações de Romeu. Alice chegou ainda as onze da noite, na casa da amiga, apavorada.
─ Você precisa conversar com Romeu. Ele estar chegando.
─ Fica comigo Alice. Ele vai me matar.
─ Calma menina! Ele não pode fazer nada contra você.
A noiva não sentia arrependimento, pelo contrário, sabia que estava na hora de dar fim àquele relacionamento. De repente, Romeu entrara empurrando Alice.
─ O que você fez Marta? Por que me odeia tanto?
─ Por favor Romeu, não era minha intenção. Eu fiquei doente.
─ Doente? Por que não avisou? Eu não teria passado embaraço com meus amigos.
O silencio pairou. Marta suspirou e pediu a amiga que saísse.
─ Eu estava me sentindo perdida Romeu. Desculpe-me, se não te falei.
─ E o que aconteceu? Você tem alguém?
─ Acabou Romeu. Vou embora daqui. Acabou.
Enfurecido, ele a empurrou. Mas logo saiu sem olhar para trás. Marta teve medo. Correu e abraçou Alice que saíra detrás da porta. Finalmente a moça estava livre de uma relação doentia.
Ricardo chegara buzinando e Marta se debruçara sobre a porta do carro para beijá-lo. Ele só não imaginava que a noiva estivesse grávida.